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21/12/2006 - 21h49

Sem inovar, livro "Eragon" conta boa história mas se perde na mania das trilogias

JOSÉ BUENO DE SOUZA
Da Redação

Divulgação

''Eragon'' é a primeira parte da ''Trilogia da Herança'', escrita pelo jovem Christopher Paolini

''Eragon'' é a primeira parte da ''Trilogia da Herança'', escrita pelo jovem Christopher Paolini

Em entrevista a um site norte-americano, o ator Jeremy Irons explicou que uma das coisas que mais o atraiu para participar da adaptação para o cinema do livro de fantasia "Eragon" foi o fato de seu autor, o norte-americano Christopher Paolini, ter apenas 15 anos quando começou a escrever a obra. De acordo com Irons, isso faz com que o livro fale diretamente com seu público, a mesma geração que Paolini. O ator faz uma comparação com "O Senhor Dos Anéis" - principal referência de Paolini -, que foi escrito por J.R.R. Tolkien para seus netos.

Faz sentido. "Eragon" é sim um livro de fantasia inspirado em Tolkien mas é escrito de um ponto de vista menos épico que a saga de Frodo. Pelo menos neste primeiro livro da "Trilogia da Herança", Christopher Paolini consegue aproximar seu herói Eragon do seu leitor.

O livro, que já foi publicado em 38 países, conta a história de um jovem camponês que morava em uma vila isolada do reino de Alagaësia. Um dia ele sai para caçar nas montanhas e encontra uma pedra azul, que mais tarde se revelaria ser um ovo de dragão. Quando o ovo finalmente eclode, nasce Saphira, um dragão fêmea que adota Eragon como seu Cavaleiro.

Sua descoberta é especial pois os dragões estavam praticamente extintos desde que o maldoso Galbatorix derrotou os Cavaleiros de Dragões para se tornar rei. Galbatorix havia sido membro da ordem dos Cavaleiros, mas muitos anos antes ele se rebelou contra seus líderes, destruiu os demais guardiões da paz e tomou o poder, auxiliado por um pequeno grupo de renegados que o seguiram.

Eragon passa a ser perseguido pelas forças do Rei, mas ele é ajudado por Brom, um velho contador de histórias que lhe ensina a lutar e a lidar com os poderes mágicos que começa a desenvolver graças à sua ligação com Saphira. Os dois partem em direção ao esconderijo dos Varden, um grupo de rebeldes que, auxiliados por elfos e anões, combatem a o domínio de Galbatorix. Por ser o único Cavaleiro de Dragões além do próprio Rei, Eragon torna-se a última esperança dos rebeldes. Em sua jornada, o herói enfrenta muitos perigos, mas também aprende muito sobre história de seu mundo, a língua antiga que é usada para fazer magias e aprende que terá que lidar com disputas políticas em todos os grupos com que se envolver.

É exatamente a isso que se referia Jeremy Irons quando dizia que "Eragon" fala com a geração do seu autor. Trata-se de uma história de crescimento, em que o jovem camponês torna-se um adulto e terá de lidar com suas responsabilidades.

A história é contada de forma muito simples, cheia de descrições da geografia e de seres fantásticos, praticamente sem nunca se distanciar do personagem principal. Essa constância chega a se tornar um pouco entediante em alguns momentos. Mas se a clara falta de experiência do jovem autor não é o principal problema do livro, há que se dizer que Paolini foi contagiado por uma doença grave que atinge a literatura e o cinema principalmente: "a síndrome da trilogia".

Por ser a primeira parte da "Trilogia da Herança", "Eragon" é praticamente todo dedicado à apresentação do cenário e da mitologia do mundo de Alagaësia. Todas as lacunas da história são deixadas para serem resolvidas nos volumes seguintes, o que não deixa de ser frustrante. O segundo livro, "Eldest", já foi lançado no Brasil mas o volume final ainda está sendo escrito pelo autor e ainda não tem previsão de lançamento.

Referências
Para escrever "Eragon", Christopher Paolini tomou como principal referência o trabalho de J.R.R Tolkien ("O Hobbit", "O Senhor dos Anéis" e outros) inclusive na utilização de línguas diferentes para construir as culturas dos povos de seu mundo fantástico. Mas ao contrário de Tolkien que praticamente criou a língua dos elfos em sua obra, Paolini adotou o norueguês antigo com algumas adições por sua própria conta para cumprir o papel da "língua antiga" que é utilizada para fazer magias.

Alguns personagens como os temíveis soldados Ra´Zac lembram bastante os Nazgûl, servos de Sauron em "O Senhor dos Anéis". O espectro Durza, líder dos exércitos de Galbatorix, é uma espécie de Saruman, pois ele também é um mago corrompido por seus poderes.

Mas as referências não ficam apenas na fantasia do folclore europeu. Não se pode deixar de notar uma certa inspiração no enredo dos filmes "Guerra nas Estrelas" em meio à história de Paolini. Os Cavaleiros de Dragões, responsáveis por manter a paz e a justiça no reino lembram muito o papel dos poderosos Cavaleiros Jedi da história de George Lucas. O usurpador Galbatorix, quando se rebela contra seus superiores, tem atitudes semelhantes a Anakin Skywalker que vem a se tornar o terrível vilão Darth Vader. Por sua vez, o herói Eragon e seu mentor Brom cumprem papéis semelhantes ao do jovem Luke Skywalker e seu mestre Obi-Wan Kenobi.

Se as semelhanças com "Guerra nas Estrelas" continuarem, já fica uma pista para palpites sobre a "herança" de que trata a "Trilogia da Herança".